Essa imagem aí é de um casulinho que apareceu na minha varanda esse ano. E casulo é uma palavra que ficou muito frequente no meu vocabulário ano passado. Todos os oráculos, da astrologia a diversos tarôs, me recomendavam me enfiar num casulo por algum tempo, pois algo tava precisando transformar dentro de mim. Minha intuição ressoava fortemente com esses oráculos, e assim eu fiz.
E dá-lhe transformação… Metamorfose vem, etimologicamente, de mudar ou ir além da forma. Pois bem, nesse tempo de casulo minha forma de estar no mundo mudou radicalmente – a partir da raiz. Mudanças em como eu sentia, via a mim mesma, as pessoas, a vida, o mundo produziram mudanças em como eu agia nesse mundo. Foi um processo lindo e profundo que me encantou por quase um ano inteiro. E aí me apareceu esse casulinho na varanda…
Toda vez que eu regava uma plantinha que morava na frente do casulo, ele se rebolava todo quando as gotinhas de água chegavam nele. Era meio que uma conversa nossa diária, eu tocava a música da água e ele dançava… até que um dia, depois de alguns dias de chuva, onde eu não reguei as plantas, voltei lá e o casulo, que costumava ser verdinho e dançante, estava cinza e completamente imóvel. Eu, que não entendo nada de biologia, não entendi se isso era assim mesmo, ou se tinha algo errado com o casulo. E na verdade, meu ponto aqui não tem a ver com essa compreensão, mas com uma outra compreensão que me veio na hora… A possibilidade de que casulo tem prazo de validade! Não é um lugar no qual morar, é casa de temporada… E se a gente não assume o risco de se espreguiçar pra fora daquele confortinho seguro, pode morrer, real ou metaforicamente.
No caso da borboleta, são alguns momentos diferentes de transformação, desde a lagarta insaciável que devora tudo que vê pela frente (quem planta orgânicos aí, reconhece); passando por abrir mão da comilança e se esconder no casulo; a deixar acontecer uma transformação gigante, que vai acabar totalmente com tudo que a lagarta conhece como si mesma; a se arriscar pra fora do casulo, testando aquele novo corpo até ali completamente desconhecido, sem nenhuma garantia…
Acho essa alegoria muito rica de significados. Você se identifica com algum desses momentos? Tá avidamente devorando tudo que te é oferecido, acreditando que a vida é isso e se empanturrando como se não houvesse amanhã? Ou tá na desilusão com a comilança, meio não vendo sentido nisso tudo, querendo mais é parar a roda viva? Ou talvez tá sentindo uma esculhambação interna, que mais desperta ansiedade do que a compreensão do tamanho da transformação que tá acontecendo? Ou talvez seja o momento de continuar se transformando em contato com o ar fora do casulo, na constante transmutação em relação que a gente chama de vida…?
Seja qual for o momento da tua metamorfose, um sim pra mudança ajuda imensamente. No meu caso, meu tempo de casulo me ensinou na prática o que eu já sabia conceitualmente, que a mudança começa dentro, Então, cada vez que me vejo meio perdida no furacão das mudanças, eu sei que preciso voltar pro olho desse furacão… o centro que tá além (meta) da forma (morphosis).