Tenho tentado achar um termo em português pra traduzir inquiry. Questionamento… pergunta… pesquisa… indagação… investigação… seria algo por aí, desde que estes termos não evoquem a ação exclusiva do intelecto. Porque a inquiry, assim como a meditação (sua prima-irmã), não é excludente. É um processo de silenciar o ruído mental e mergulhar em fontes mais profundas de informação às quais temos acesso.
Pra isso a gente conecta com o corpo, as sensações, movimentos e percepções que estejam presentes neste momento. Quer ver? Para um pouquinho e leva tua atenção pra dentro do corpo. Vê quais são as primeiras coisas que você percebe nele. Geralmente são as tensões e desconfortos, mas não necessariamente. Agora continua com a atenção aí, no seu corpo. Vai percebendo sensações mais sutis, como o movimento da respiração, qual a sensação que dá quando o ar entra? Onde que move? E quando ele sai? Você sente algum movimento na barriga? E na pelve? Você sente seus pés? Como tá o pescoço? E qual a sensação dentro da boca? Teu rosto tá relaxado?
São muitas as informações que a gente descobre só de levar a atenção pro corpo. E é também no corpo, que vamos perceber sentimentos. Com a prática vai ficando muito fácil de conectar com algum medo, tristeza, raiva, assim como alegria, tesão, amor… E os sentimentos nunca são um fim em si, sempre são portas que nos levam a compreender e transmutar alguma coisa. No processo da Inquiry assistida, essa transmutação é obra completamente sua, onde eu só vou dando uma mãozinha pra você continuar no caminho de explorar, investigar, inquirir.
E nesse caminho fértil fazem parte também imagens, memórias, idéias que, por sua vez, abrem mais sensações, sentimentos… É uma caminhada instigante que vai desafiando a gente a soltar conceitos e emoções estagnadas pra fluir com a verdade que se apresenta a cada momento.
Acontece que as estagnações muitas vezes estão muito bem guardadas em tensões crônicas no corpo da gente, que tornam quase impossível acessar aquele conteúdo. É aí que entra a Bioenergética, uma ferramenta muito potente para entrar em contato com essas tensões e liberá-las.
Este processo envolve encontrar os sentimentos presos nas tensões, o que geralmente se origina de momentos em que não nos sentimos seguros em sentir ou expressar o que sentíamos. Por exemplo, uma criança que sente raiva do pai ou da mãe por não receber atenção deles, mas teme perder a pouca atenção que recebe se expressar sua raiva, vai reprimi-la, contraindo a musculatura de sua mandíbula, pescoço, ombros, numa tentativa do corpo de segurar aquele grito ou mordida ou soco que tinha vontade de dar. Da mesma forma uma criança que apanha dos pais, ou é intimidada por agressão verbal, ou até mesmo por uma exigência muito alta, vai evitar estes sentimentos hostis para não aumentar a sensação de risco.
Todos nós acumulamos sentimentos guardados. Não só raiva, mas choro, medo, tesão… são muitas as possibilidades de sentimentos que em algum momento eram percebidos por nós como uma ameaça.
A Bioenergética ajuda a atualizar esse registro distorcido da realidade. Pois esta ameaça de “perder o amor” dos pais fica gravada neste corpo que “congelou” esta experiência em si, de forma que nos tornamos adultos com medo de “perder o amor” de um parceiro ou parceira, por exemplo, o que pode gerar muita dificuldade em se relacionar. E a lista de limitações é grande, passando por distorções na relação com poder, dinheiro, criatividade, maternidade, paternidade, autoestima, etc.
Através de exercícios corporais acessamos estas tensões crônicas e os sentimentos contidos nelas, de forma que eles possam ser liberados e esta energia estagnada volte a fluir, abrindo caminho pra novas formas de lidar com as situações.
Não se trata de se livrar dos sentimentos, pois todos eles tem uma função a cumprir, mas de estabelecer uma nova relação com eles, de ouvi-los ao invés de temê-los. Integrar o que a gente sente abre uma inteligência potente, criativa e fluida, que lida com a realidade a partir do momento presente, não através de caminhos preestabelecidos.
É uma jornada desafiadora, encantadora e profunda essa, do encontro com a gente mesmo.
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